quarta-feira, novembro 30, 2005

Nas Catacumbas...

Atrás de uma porta de ferro trabalhado, degraus sinuosos, apenas iluminados pelas ténues luzes de algumas velas, levam-nos ás catacumbas. Lá nas profundezas, um balcão (que podia ser de mármore) de bar e o P.A. da banda são os únicos adornos de uma cave despida quase por completo, aguardavam o início do rock ás curvas. Além do dito balcão e respectivo barman, umas dezenas de pessoas aglomeravam-se em frente aos irmãos Diego e André Armés e a Bernardo Barata, este trio que é colectivamente conhecido como a Feromona. Faltavam cerca de dez minutos para o dia 26 de Novembro e o relógio dizia que estava na hora de iniciar o regresso da banda aos palcos da cidade natal.

O Paquiderme Magrinho foi o primeiro convidado, e apresentou-se tranquilo e bem humorado, como sempre, mas enérgico e determinado, anunciando a presença da banda lisboeta com ar descontraído. Foi ele o cartão de visita, deixando bem claro que a noite, apesar de não ser em Budapeste, ia ser… de rock n´roll. Serviu de introdução para duas novidades. A primeira de nome russo, mas bem portuguesa, Vodka mostrou desde logo que a banda tem os trabalhos-de-casa em dia e a lição bem estudada. Melodias simples e fortes, bem vincadas, de um ambiente melancólico tipicamente português, misturam-se com o rock musculado e distorcido, como aquele que foi criado no norte das Américas nos saudosos anos 90, numa combinação perfeita, como que de uma poção mágica se tratasse, onde todos os ingredientes são misturados nas quantidades ideais e mexidos na altura certa. A Manifesto Pessimista deu continuidade ao espectáculo num tom mais discreto e antecedeu a encantadora Conto Infantil, que nos transporta através de jogo de melodias e palavras para o real universo dos contos infantis – explicar a vida de um modo mais colorido, mas nem por isso menos sério.

O Conto não teve fim, e colou-se, por meio de feed-back, ao Crocodilo. Mais rude e de contornos mais grosseiros, com um cheirinho a Nirvana, a Crocodilo opta por um atalho para atingir o seu objectivo ou, por outras palavras, é less talk and more rock. Sem largar o fio á meada, coladas desta vez por uma secção rítmica esclarecida e empolgante, a Latina Woman sucedeu a Crocodilo, e convenceu os poucos que, por esta altura ainda não estavam rendidos á Feromona, com o pormenor delicioso de misturar lá pelo meio o beat pré-techno dos anos 80, com um excerto de No Limits dos 2 Unlimited. Aqui, além de apalusos, a banda arrancou sorrisos a toda a plateia. Outra novidade, a Manif, antecedeu o momento que a maioria dos repetentes dos concertos de Feromona esperavam. Recordando, com a devida vénia, o espírito do verdadeiro Mr. Ice, o grande Steve McQueen ( Nascido há 75 anos e falecido, faz neste mês, 25 anos), a banda ligou a ignição do seu Mustang, que deslizou com a velocidade de um cometa e com a presença cool de um James Dean, fintando tudo e todos, curva após curva, até esbarrar de frente, mas com um sorriso, com o seu último acorde.

Por esta altura, a noite já estava ganha. A Balada do Encore foi outro dos momentos altos. Uma composição carismática e de personalidade forte, é quase como que um auto-retrato, carregado de ironia e uma subliminar boa disposição. O poema é fantástico, e valeria por si só, mas no conjunto fica tudo fabuloso. Fecharam com a instrumental Big Crunch, lembrando os presentes que a música, independentemente das palavras que a possam adornar, ainda é o motor que impulsiona qualquer concerto. Foi, de muito longe, o melhor concerto que vi da Feromona. Coeso e trabalhado, a mostrar que a sala de ensaios tem sido boa amiga, e que a "contratação" do último defeso, o BB, dá 10 a 0 ao outro rapazito que por lá tocava baixo... resumindo - melhorias muito significativas ocorreram na Feromona, no espaço dos últimos 4/5 meses. Se tivesse que descrever a Feromona utilizando apenas uma única palvara, essa seria inteligência.

O povo auditivo queria mais, e findo o tempo de um cigarro (o Diego por esta altura já estava azul com a falta de nicotina), o Mustang deu mais uma volta pela cave do Lisboa Bar, juntamente com o Paquiderme Magrinho, mas, mesmo assim, ainda havia vontade para ouvir mais uma. O ambiente tava bom, e o povo pedia mais uma. “Vocês querem é festa, não é?”. Foi esta frase proferida pelo vocalista antes da Latina Woman reaparecer para encerrar o encore e o concerto. E fechou-o bem, com chave de ouro. A partir daqui... será sempre a subir.

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