terça-feira, setembro 27, 2005

O Regresso da Brigada do Reumático

Tenho a firme convicção de que a (boa) música é completamente intemporal, como qualquer outra obra de arte. Mas se a obra é, os artistas não. Creio que as pessoas devem ter a noção de que tudo tem o seu tempo, e que, após um determinado número de anos, chega a hora de pendurar as chuteiras e dar espaço ao sangue novo que vai surgindo. Até porque, salvo raríssimas excepções, a quase totalidade dos músicos com mais de 20/25 anos de carreira não cria nada de novo, e, pior que isso, limita-se a fazer más fotocópias do que tinha feito anteriormente.

Tudo isto a propósito das recentes edições de dois cds, um dos Rolling $tones e o outro do elemento mais irritante de todos os Beatles (se é que é possível escolher um…), o Paulo. Segundo dizem os iluminados (a.k.a. críticos musicais) cá do burgo, estes dois discos são do melhorzinho que os ditos artistas fizeram nos últimos 10/15 anos. Não os ouvi (nem penso faze-lo) mas não acredito. Sinceramente, não acredito em nada disto, pois daqui a uns 4 anos, quando estes velhos gagás editarem o próximo cd, a imprensa especializada vai voltar a dizer a mesma merda, assim como o fez com os antecessores destes trabalhos. Já não sei quem é que me dá mais sono…

Não gosto particularmente de Beatles nem de $tones (para ser sincero, somando todas as músicas que me agradam minimamente, não sei se chegariam para fazer um cd com 12 faixas de cada uma dessas bandas), mas reconheço que, pelos motivos globalmente conhecidos, eles têm muito mérito. Mas lá por terem mérito naquilo que fizeram e um passado brilhante (e influenciaram, muito provavelmente, 80% das bandas que me agradam), isso não lhes confere o estatuto de eternos. E, sinceramente, eles já enjoam, já estão fora de prazo faz muito tempo!

Mas a culpa desta farsa não é só deles. A culpa é dos tubarões das editoras, que preferem promover velhas galinhas de ovos de ouro do que apostar em novos valores. A culpa é dos otários da minha idade, que compram os discos a preços exorbitantes para completar as colecções iniciadas pelos papás. A culpa é de todos aqueles que esgotam os concertos destes gajos, e não vão lá para ouvir as músicas novas mas sim os êxitos do passado. Por sua vez, os dinossauros, como dinheiro nunca é demasiado, vão aproveitando enquanto a fonte não seca e vão fazendo render o peixe. E a continuação desta espécie de parasitas já está assegurada, pois, ao que tudo indica, os U2 estão a aprender a lição muito bem, estão quase lá!

Os danos causados por estes bichos velhos são demasiados. Além de serem um atentado ao bom gosto e á inovação (pois, eu sei que os 60´s foram fixes e que o Rock n´Roll é boa onda, mas já passaram 40 anos, tá mais que na hora de passar á próxima etapa, boa?), o orçamento de toda a produção destas novas edições, bem aplicado, seria suficiente para que umas 30 bandas pequenas gravassem os respectivos cds com condições excelentes. Um concerto destes animais, além de, naquele dia, roubar público a dezenas de concertos de bandas em crescimento, faz ainda com que os presentes nesse evento não tenham dinheiro para gastar em outros concertos, pois a 50€ (pra mais, óbvio) o bilhete, não há bolso que aguente. E ainda temos os cd. Para quê comprar discos destes gajos? Saquem da net, gravem dos amigos, mas para quê dar mais dinheiro a quem já não precisa dele?

Está mais do que na hora de alguém meter travão nisto, mas enquanto forem as majors a ditar as regras que controlam o mercado, enquanto as MTV´s contagiarem a juventude, impondo o que é e não é cool, enquanto as pessoas pagarem balúrdios para um dia de Rock in Rio (isto apenas para dar um exemplo) e não perceberem que estão a ser roubadas quando dão 18€ por um cd, nada vai mudar. O rebanho está de parabéns, pois continua obediente e sem levantar ondas. Continuem assim, é isso que eles querem

Comments:
Discordo. Há pontos em que falas bem, há outros em que misturas assuntos.

Para já, ganhar dinheiro a trabalhar nunca foi crime. E os Stones trabalham. Depois, parece-me incauto "não acreditar nos iluminados dos críticos" sem te dispores, sequer, a ouvir os álbuns. É uma postura um bocado arrogante, não? Para maisquando acabas de criticar a arrogância dos críticos... Em relação às majors apostarem nestes gajos, é simples: um CD - tenha o que tiver, até pode ser uma sessão de conversa entre eles... - dos Stones dá precisamente para sustentar milhares bandas de sub-labels associadas que dão prejuízo e que só podem sobreviver graças às vendas de bandas como esta. Tira os Stones, as Madonnas e os U2 do mercado e vais ver quantas editoras satélite de música alternativa sobram para suportar as bandas "pequenas". Tudo tem o seu custo e o seu circuito. Depois a história da moda e da MTV - a MTV manda os putos gostarem de Black Eyed Peas, do Daddy Yankee e do 50 Cent. Há anos que o hip hop e subgéneros/géneros associados domina as televisões musicais - salvo o MCM que só passa franceses... Para terminar a parte da discórdia, digo-te que vi pessoalmente - sim, paguei bem pago - o concerto dos Stones em Coimbra e que este foi, muito provavelmente, o melhor concerto que vi. Estão velhos mas sabem o que é dar espectáculo. Não ouvi ninguém chorar o dinheiro no fim do show. Pelo contrário. E eu já chorei concertos de 15 euros de bandas que ouço em casa - não é o caso dos Stones, admiro-os e tive curiosidade e fui vê-los. Quanto aos Beatles - do McCartney não falo, não gosto particularmente do gajo a solo - serão tudo menos irritantes. Nunca se repetiram e primaram por inovar do primeiro ao últmo álbum. O Sargeante Peppers é só uma obra-prima.

Concordo contigo em relação ao preço dos CD's, é um roubo autêntico. E penso que em Portugal, se praticassem prémios mais acessíveis, acabariam por ganhar muito mais dinheiro - o pessoal já nem tem o hábito de comprar: copia, tira da net, etc... Qualquer dia só se vendem cá edições de colecção. E é bem feito. O preço dos concertos também é elevado se compararmos por exemplo uma noite no Coliseu, com um artista (dois no máximo) que costuma rondar os 30 euros, ou o cartaz de Paredes de Coura deste ano - quatro dias em grande a 80 euros (ou 75, já nem sei...).
 
Bem meu, vamos por partes, então! Trabalhar, trabalhamos todos. MAs existe a reforma, e os $tones já podem viver (e bem) dos rendimentos e continuar a tocar em festas prós amigos e isso. OUvir os albums não vou, porque sei exactamente o que vou ouvir e, principalmente, porque (como disse) não gosto do som. A cena dos críticos... não é arrogância, nem falei disso, é só que eles falam sempre como se fossem senhores da razão e o lixo que publicam não é um dogma nem perto disso.

Bem, agora as majors... conheço muito boas bandas que se auto-sustentaram e criaram as suas próprias editoras, sem nunca dependerem de majors ou sub-labels, e são bandas bem influentes no mundo da musica (ex: minor threat; black flag; bad religion; etc.), por isso... não é por aí. E eu não sou contra as majors, sou contra os contratos vitalicios.

Acerca de idas a concertos... Guitas, eu entendo o que queres dizer, mas aí já entra a questão de gosto pessoal- cada um gasta o seu dinheiro onde quer, eu posso é não concordar,certo? E não disse que os concertos são maus, nada disso. Disse apenas que os preços são um roubo.

Sobre os Beatles digo-te apenas o que já te disse sobre os GNR - Não sou grande conhecedor, e o que conheço nunca me deu vontade de conhecer mais, bem pelo contrário - aquilo faz-me sono, a sério!

De resto, estamos de acordo!
 
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