quinta-feira, março 10, 2005

Aberrações

Sábado, 05/03/05, duas e tal da tarde ( seriam já três e tal? Adiante... )

Após acordar tranquilamente, liguei a tv enquanto me despachava para sair ( naquela que foi a minha primeira viagem num carro com apenas dois pedais, de um azul que pensei não existir! He he he ), e mesmo sem sombra de ressaca, fiquei logo com um vómito atravessado. E desta vez a culpa nem foi dos Toranja. Para mal dos meus pecados, ainda nem tinha bem aberto a pestana, e levo logo com os EZ Special, sentadinhos numa praia deserta, de guitarra acústica na mão, a tocarem o seu novo single. Eu, que já não os tinha em boa conta, muito por causa daquela musiqueta da TMN ( “Lá lá lá lá lá Uuuuu, I still miss you” – pequeno aparte para quem esteve fora de Portugal nos últimos dois anos! ), consegui ficar ainda com pior ideia deles. Aquela conversa do “I´m gonna change that tonight, i´m gonna make allright”, a repetir-se dolorosamente ao longo de 3 ou 4 minutos, deu-me arrepios. Que merda é aquela, pá? Quer-me parecer que os rapazes da Feira insistem em reafirmar em mais um disco a mediocridade pela qual se regem.

Lembrei-me então de uma conversa que tive num passado recente, com um amigo de longa data, figura de proa de uma banda em franca ascensão no nosso panorama musical, que se dedica á escrita e composição de canções de alguns anos a esta parte ( alguém com bagagem e com certa autoridade no assunto, pois além de trabalhar num respeitável diário nacional, tem já dois livros de poesia editados ), acerca da eterna questão de escrever letras em inglês ou em português. Sendo apologista de cada macaco no seu galho, defendo sempre que o Pop, o Rock e os outros tipos de música ( que não foram criados cá no burgo ) devam ser cantados na língua de origem. Mas ele há casos e casos. Dizia-me esse meu amigo, e muito bem, que deixou de escrever em inglês ( principalmente ) porque chegou á conclusão que preferia fazer excelentes letras em português do que continuar a escrever em inglês, sem nunca conseguir passar de um nível competente. Na altura torci o nariz, mas a verdade é que ele tem razão. É uma prova de bom senso e, acima de tudo, de bom gosto.

Desde os meus 15 ou 16 anos que estou ligado a bandas, onde as letras em inglês sempre foram um dado adquirido. A banda onde toquei com esse meu amigo, nos idos tempos de liceu, também tinha letras em inglês. Na altura deviamos ter uns 17 anos, e mesmo condicionados pelos poucos anos de vida, limitações de vocabulário e por uma ( falta de ) maturidade própria dessas idades, nunca, mas mesmo nunca, me lembro de me terem passado pelas mãos coisas tão básicas e patéticas como as letras dos EZ Special. Não sou fã de Pop, acho que o género é o parente pobre da música ( fora a martelada das raves, que nem sequer é música ), mas mesmo dentro de um estilo easy-listening, onde predomina a composição pastilha elática e completamente radio friendly, os EZ Special são aberrações. Nem os Silence 4, com aquelas letritas enfadonhas e mal engendradas ( quem não se lembra daquela bela tirada “Put me in your supermarket list”? ), eram tão maus. É difícil escrever bem, mas é ainda mais difícil escrever bem e em inglês. Se não é, parece, pois sinceramente, fora os Primitive Reason, acho que não conheço banda nacional que escreva bem em inglês.

É caso para dizer que quem não sabe não faz, ou que para fazer merda dessa mais vale estar quieto, mas temos que agradecer aos EZ Special e a todos os outros criadores de música má, para podermos continuar a dar valor á música boa. Este caso, como tantos outros, não seria alarmante se isto passasse despercebido. O problema é que os EZ Special, e a tragédia em forma de música com que eles nos brindam, vão invadir o conforto dos nossos lares, os rádios dos nossos carros, vão violar brutalmente as ondas sonoras que recebemos, pois a maioria dos meios de comunicação vão empenhar-se em mediatizar ainda mais os meninos, utilizando a nova melodia em anúncios e afins, ou dando-lhe um infinito e injusto air play. E o povão, como sempre, vai-se deixar seduzir pelos dois acordes do costume, pela letra lame cantada com voz chorosa e pelo refrão ultra-orelhudo da dita cançoneta. É triste mas é a mais pura verdade. Mas...no país do Pimba, o que podemos nós estranhar?

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