terça-feira, dezembro 14, 2004

Espírito de Natal

Não me agrada particularmente falar em coisas mortas. Mas visto que é Natal e certas bandas decidiram encher, ainda mais, as suas gordas contas bancárias (duas daquelas bandas que supostamente são alternativas sem realmente nunca o terem sido), vendendo ao Zé Povinho material previamente mastigado, com um ou outro docinho para enganar os tolos, decidi escrever umas coisitas.

Antes de começar, anuncio aqui que vivi intensamente os anos do Grunge, também pertenci ao clube “camisas de flanela + Converse = rebelde sem causa”, com muito orgulho, principalmente por ter vivido esses anos em idade de conseguir compreender o que se estava a passar, o que não quer dizer que me deixe cegar por toda aquela euforia misturada com raiva, e que coma tudo o que me é posto á frente, tendo como dado adquirido que é bom só porque alguém o disse.

Mas não é o movimento que está em causa, é o fazer guito com material reciclado. Sou contra o conceito box, greatest hits (whatever...), principalmente quando se edita algo do género todos os anos (caso dos Pearl Jam), ou quando estes são lançados para enriquecer sobreviventes-decadentes ( a viúva alegre e o servo-croata das quatro cordas, o Dave Fighter tá bem na vida). Os Pearl Jam, que este ano já editaram dois albuns ao vivo (e mais uma quantidade de tralha desta ao longo dos anos), podiam perfeitamente poupar-nos a este Rearviewmirror, independentemente da qualidade das canções. Os Nirvana podiam ter lançado a box em tempo de vida. Os Alice in Chains, banda bem mais mainstream (será que eram mesmo?) que os Nirvana tiveram a honestidade de o fazer, aliás, não editaram nada de original a título postumo, o que é de louvar. Ao longo destes dez anos, tem sido vergonhoso, o aproveitamento que tem sido feito do legado de Cobain, por pessoas sem a capacidade de sobreviverem na música pelos próprios meios (os dois que falei acima, especialmente ela).

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No Y da passada sexta, foram devidamente apreciadas estas duas edições natalícias, antecedidas de um texto que parece proposto a servir de nota explicativa, suponho que, para todos aqueles com menos de 20/22 anos, ou para os mais velhos, que andavam por outros planetas nos anos 90. A partir destes textos, chego ás seguintes conclusões (entrando na onda do sr. Monchique, autor do texto): A primeira é que, após dez anos, os Nirvana continuam a ser levados ao colo pela imprensa (acredito que seja por causa do defunto, visto que Doors, Beatles e outros tantos beneficiam do mesmo tratamento). A segunda é um descarado amor do escriba aos Nirvana e um quase-escárnio com que fala de Pearl Jam, só lhes falta chamar banda de segunda categoria e promover os Nirvana a semi-deuses. Ainda temos uma trapalhada hilariante, onde o senhor tenta separar as bandas da época em grupinhos de amigos, que vai ao ponto de meter os poderosos Helmet no saco (bastante alargado, diga-se) do Grunge, e ainda consegue arranjar maneira de conotar os Nickelbeck com tudo isto (lá voltamos nós a rotular tudo e mais alguma coisa...). Resumindo, os fãs de Pearl Jam não vão curtir muito a cena, os de Nirvana vão ficar de olhos a brilhar, e nós, os imparciais, vamos ficar cada um na sua. A minha é que aquilo foi mauzinho, não é ofensivo mas e bastante injusto para a turma do Ed, faltou pudor e respeito pelos Jammers ao senhor que escreveu o texto.



Passaram dez anos. Grande parte dos meus amigos (uns bons 80%) venera, ou venerou, Nirvana. Não entendo. Nunca entendi a histeria á volta deles, muito menos a compreendo agora. Já li por ai, em vários sítios, que eles foram a banda que mais marcou a década passada e a que deixou o legado mais importante. Verdadeiro e falso. Se são, indubitavelmente, a banda mais marcante dos anos noventa, muito graças a um novo Anarchy in the U.K. (aka Smells like Teen Spirit), a conversa do legado é clubite.
Depende do gosto pessoal de cada um, e como tal, nem vale a pena começar com essa conversa. Eu até prefiro os Foo Fighters aos Nirvana, por isso...

Reforço a ideia de que me apenas me estou a manifestar contra o formato e intenção destas edições de Natal, que nada tenho contra as bandas (apesar de não ser o fã #1 de nenhuma, ambas tiveram algum peso- não muito- na minha educação musical ), que faria o mesmo tipo de crítica a qualquer outra edição do género, lançada por qualquer outra banda. Para engodo, mais vale editar albuns ao vivo, que sempre são divertidos de ouvir, e ai uma pessoa é enganada com gosto, pois apanha-se o espírito do rock-show. Os albuns ao vivo são dos males o menor, as box e as compilações são dinheiro fácil para musicos e editoras, muito pouco preocupados com a fonte de rendimentos, desde que estes sejam elevados.

Comments:
Merda, tinha comprado essa merda para te dar no natal... Mas não faz mal tb tenho um par de meias...
 
Este comentário é apenas para a estatistica
 
Maior, isso é tudo muito giro, mas o timing das coisas tb conta, e para mim, nao lançar material inedito depois do final da banda e lançar uma box em tempo de banda é bem mais de louvar do que tudo o resto. Quanto ao maracanã, para sua informaçao, isso foi no Hollywood Rock, os NIrvana fecharam o festival no sabado e os AIC fecharam a vespera, com o estadio igualmente cheio. BILLBOARD? essa conversa de mainstream para mim nao, a musica nao e feita para vender discos, ou como diria o fatty "whatever happened to making music just because?" e podia continuar, mas nao vale a pena, isto foi acerca de fazer guito no natal, e nao de quem foi a melhor banda.

sheriff- quero essas meias; jójó- boa!
 
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