quarta-feira, outubro 13, 2004

Um concerto de cada vez!

Hoje, para variar, vou-me chegar á frente com algo mais sério. Tive uma ideia porreira (porreira nada, boa mesmo!), foi a de por em texto o outro lado de um concerto. Quem está ligado a música, está habituado a ler críticas a concertos feitos por críticos (que em geral são musicos frustrados-toma!, ou são mesmo alguém que nunca pegou num instrumento e não sabe o que custa), mas essas críticas são baseadas em quê? Como nunca percebi muito essa cena das críticas exteriores, convidei um amigo que ia dar um concerto para nos contar o outro lado da coisa, ou seja, como se vive um concerto de cima do palco!

A banda em questão são os Feromona, e o meu (grande -digo grande porque o é, em muita coisa!) amigo é o Diego, vocalista/guitarrista e líder dos Feromona, companheiro desde os idos tempos de liceu, com uma tendência natural para fazer brilhar qualquer coisa onde põe as mãos. Por motivos alheios a este texto, nunca vi um concerto dos Feromona, mas conhecendo bem 2/3 da banda sei bem do que estou a falar, pois desde os tempos dos Shave (projecto mais promissor aqui da zona nos anos 90!) que já adivinhava um futuro risonho aos irmãos Armés (é obvio que nunca lhes disse, senão ninguém os calava...)

Agora que acabei com a conversa de treta, vamos ao que interessa, Feromona na 1ª pessoa:



Feromona ao vivo no Santiago Alquimista - o ponto de vista do músico

Uma coisa é certa: mesmo levando em conta uma enchente de gente mal-vestida, mal-parecida e mal-encarada num espaço apertadinho, é bem mais fácil ficar no público, em frente ao palco, do que no palco, em frente ao público. Ainda assim, há concertos em que vale a pena saltar as grades, emaranhar pelos seguranças e dar uns pulos em cima do palco ao lado de gente que a gente normalmente só ouve na telefonia e só vê na televisão quando, a meio de uma espreitadela à Isabel Figueira, temos que levar com o Top+. Excluindo esta situação, só me ocorre outra maneira gratificante de subir a um palco: dar um concerto em grande para um público atento e disposto a ouvir, reagindo com prontidão e de ouvido em riste, num estado de alerta permanente.

O que aconteceu com os Feromona, em meados de Setembro, no Santiago Alquimista (em Lisboa), foi uma destas experiências positivas - mais: agradável, saudável e revitalizante. Quando saímos do palco, para um breve intervalo (durante o qual DJ Arsénio fez das suas, mantendo o povo quente numa sessão que primou pela coerência e bom-gosto), comentávamos, entusiasmados, que "aquilo estava a correr muito bem!". E estava mesmo. A sala era óptima, o palco um assombro, a aparelhagem uma tentação, o cenário magnífico, a luz perfeita. E, claro, o público era excelente. Os repetentes do primeiro concerto reagiram com familiaridade aos temas mais sonantes que voltaram a ouvir e com entusiasmo à novidade ("Mustang") que apresentámos, em directo e exclusivo. A restante audiência apresentou-se atenta e bem-disposta, reagindo calorosamente quando assim era conveniente e aplaudindo (com honestidade, espero e acredito eu) entusiasticamente os temas interpretados com mais brilho - desde os improvisos experimentalistas-progressivos às canções que, não sendo pop-rock FM, acabam por se afirmar com mais facilidade junto de ouvidos novos.

Não sei muito bem o que é que o Mini pretende que eu escreva neste texto. Contudo, atrevo-me a fazer uma auto-crítica ligeira e uma apreciação geral pelo comportamento do público e condições da casa. Já falei destes dois últimos pontos, falta agora a auto-crítica. Como deverão calcular, não primarei pela falsa modéstia, tentando, ao invés, ser altamente subjectivo - não com vista ao auto-elogio mas para que quem nunca subiu a um palco possa imaginar melhor o que passa pela cabeça e pelo corpo de alguém que o faz. É estranho. Uma pessoa sente-se a sua própria criação. Uma personagem que sai de nós mesmos assoma, de repente, pega na guitarra e desata a fazer aquilo a que estamos habituados a fazer nos ensaios. Mas não somos bem "nós", é qualquer coisa adulterada - e eu não consumo substâncias muito adulterantes... uns bagacitos e umas cervejas, quando muito. Falo por mim, na guitarra e na voz, mas poderia certamente falar do André Armés, na bateria, ou no Cristóvão D'Almeida, no baixo. Aliás, este comentário é feito também em nome deles, os outros dois elementos de Feromona - o nome deste power-trio agitado.

Quanto ao resto, é natural que as coisas corram bem quando estamos mentalizados para um objectivo - neste caso, a possibilidade de aquele ser, eventualmente, o melhor sítio onde alguma vez havemos de tocar, uma espécie de oportunidade única e difícil de conceber quando ainda não se fez nada de realmente válido e notório para merecer tão faustoso palco. Logo, a mentalidade era esta: vamos aproveitar; por que não vestir a pele de estrelas a sério e comportarmo-nos como esses gajos da televisão? E assim foi.

Em resumo, gostei bastante do concerto, sem dúvida o melhor que dei até hoje. A nossa atitude correspondeu ao que havíamos pensado, as nossas interpretações saíram cuidadas sem serem demasiado plásticas ou contidas. As explosões equilibraram-se com as naturais manobras de rigor para as músicas tecnicamente mais exigentes. Toda a gente percebeu o que estivemos a fazer em cima do palco e, confiando nos que comentaram comigo o concerto, toda a gente gostou. No final, depois de um encore e meio (sim, na última música nós também fizemos uma forcinha para voltar ao palco, confesso...), a sensação era de missão cumprida. Mais que isso, divertimo-nos imenso a fazer de rock-stars e a tocar as nossas próprias músicas. Obviamente que, para que esta sensação possa existir no final, temos que estar na presença de um público óptimo. Se tivermos um DJ competente à mão, melhor ainda. O que é certo é que dar um concerto assim vale mesmo a pena. Só espero que vá havendo ainda mais gente no público e que essa gente vá gostando do que os Feromona fazem.

Diego Armés

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