segunda-feira, abril 18, 2005

O tempo destila as coisas até à sua essência

Mais adiante, vejo o que é simultaneamente o que é um caminho e um túnel; e em baixo, vejo as pegadas que repousam perante mim, que vagueiam em direcção ao horizonte e me guiam directamente para o desconhecido. O meu coração diz-me que lá à frente, nas profundezas longínquas, repousa a semente de tudo aquilo que a vontade é e será; no entanto, tenho medo de deixar o conforto da caverna e os desenhos na parede, porque eles são tudo aquilo que eu sei, aquilo que conheço e experimentei.

Eles podem não vender tanto como os Silence 4, e podem não ser tão bonitinhos como os Blind Zero, mas são a figura de proa no que diz respeito a contribuir com algo de útil e verdadeiramente inovador para a música portuguesa nos últimos dez anos ( apenas os Blasted Mechanism e Rodrigo Leão se podem gabar de um feito semelhante ). Falo dos Primitive Reason, hoje num formato bastante distante da formação que criou a batidíssima “Seven Fingered Friend” e o albúm Alternative Prison. Dessa formação original, onde podíamos encontrar Brian Jackson na voz e Mark Cain no saxofone, sobra apenas Guillermo de Llera Blanes, que largou as 4 cordas de então para assumir as despesas vocais do conjunto da linha. O som mudou? Mudou, e ainda bem. Como disse o meu amigo Mac no seu Moleskine, ainda bem que os Primitive Reason não fazem dois discos iguais, e este, o quinto, não foge a essa regra.

Guillermo contínua a ser a força criadora da banda ( já o era no passado, a meias com Jackson, agora voa praticamente sozinho ), e várias músicas deste Pictures in the Wall são mesmo gravadas apenas por ele – fora a guitarra e bateria, o homem toca “todos” os instrumentos de que se possam lembrar neste registo, do Didjeridoo aos Kolhapuri Bells! Aliada a uma coesão e entrosamento perfeito, entre os irmãos Beja ( Abel e James, respectivamente guitarrista e baixista ) e Guillermo, a evolução sonora é uma realidade que supera as melhores previsões feitas por qualquer pessoa, o que transforma Pictures in the Wall na continuação perfeita do trabalho anterior, The Firescroll. Os Primitive Reason sempre foram bons, a fusão de sonoridades a que se dedicaram desde o início nunca deixou margem para grandes dúvidas ( creio que até as vozes mais críticas, que nos primeiros tempos os apelidavam de cópia dos Jesus Lizard, já se calaram por esta altura ), e eles são a prova que certas bandas só ficam melhores com o passar dos anos.

The winds that carry the soul have brought me to this capsule and in this engulfing blackness, that is deep space, I am only one, floating. I travel alone within a vessel that has been set to take me where I need to go, and assure my survival and well-being in doing so. At this very moment, I have just woken from a deep cryogenic hibernation, only to come to in this strange body. My mind is still numb from the long sleep, and I feel different than before I lay down. Through the window in my sleeping pod, I look out into the deep space, and in the beauty, I have a thought, new and strange to this body: that all things manifested live blessed with an inhabiting soul that gives reason to the movement of life with yearning to grow.

O conceito que deu origem ás músicas é explicado através de um livro que acompanha o cd, onde nos é relatado um sonho, ou partes desse sonho. Tal como as letras das canções, o livro vem em inglês, castelhano e português, mais um reforço para complementar o leque multicolorido que é o universo dos Primitive, baseado numa diversidade e consequente fusão de estilos, que representam grande parte da força desta banda. Não são em nada inferiores a qualquer banda estrangeira, e estão a caminhar a passos largos para a perfeição, deixando no ar a pergunta “para quando o reconhecimento internacional?”. Por cá não tenho esperança em ver os Primitive no lugar devido, as apostas das editoras e rádios, e os gostos dos tugas, param nos Toranja e nos EZ Special, mais do que isso é pedir muito.

Pictures in the Wall é, até agora, o albúm nacional do ano. Não querendo afirmar que é o melhor registo da banda ( isso já mete gostos ao barulho, e o Alternative Prison faz parte da minha história ), posso afirmar que é, de longe, o trabalho mais competente. Com poucas ou nenhumas falhas, destaque para El Caballero de la triste figura, Speaker Box, Prana, Nakara e Evidência. Não, não é Easy-Listening, nem tem uma nova “Seven Fingered Friend”, mas é completo e foi extremamente bem idealizado e concretizado. Atrevo-me a dizer que neste século, em terras lusas, não se fez nada que chegue aos calcanhares de Pictures in the Wall, mas isto é só a minha opinião. Um albúm para pessoas de mente aberta e sem medo de arriscar, não o recomendo a quem possa ter achado piada ao último trabalho dos Xutos

Llegaste a una edad en que empezarás a dudar de las verdades que te fueron transmitidas, en que tendrás que pensar por ti mismo. Observas la forma de vida de los que te rodean y sientes que ya no vale para ti. La mayoría te parecen indigentes; deja de juzgar las mentiras com demasiada severidad, intenta comprender por qué fueron así y qué bien podrán aportarte. No cierres tu mente, o dejarás de ver la belleza y nunca más podrás volver a verme cuando este contigo. Acuérdate de este momento y de todo lo que te he enseñado. Vive la vida al máximo, y apodérate de la belleza que te rodea. Aunque a veces luches por una buena causa, recuerda que la vida no es una guerra.

Pictures in the Wall8.5 / 10 ( 0 / 10 )

Comments:
Acho que para atingirem o nível dos toranja e dos ez special só lhes falta a imagem.Um pouco de gel,cortes de cabelo como manda a regra pop star e umas fotos nos eventos sociais so jet set a.k.a no brain foundation.
 
É verdade, ainda tenho esperança de ver o Guillermo na terceira edição da Pocilga das Anormalidades! ;-)
 
Não uso o msn faz um certo tempo, aqui no bules já não dá e em casa ainda não há. Vida de pobre não é fácil, cara amiga...
 
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